Como Lidar com Mudanças e Adaptações em um Remake


Mês passado (Dezembro de 2018), a internet ficou agitada por conta de uma polêmica que a Netflix soltou e era sobre uma nova versão da série Saint Seiya, conhecida como Os Cavaleiros do Zodíaco no Brasil. O motivo da polêmica era que o trailer oficial já apresentava diversas mudanças drásticas e que incomodaram um bocado de gente. Dentre essas modificações, a que mais se falava era da mudança de sexo de Shun, um dos personagens principais. Pessoalmente não fiquei tão incomodado com o ocorrido, já que nunca fui muito fã de CDZ, contudo eu conseguia entender claramente a dor dos fãs e esse é um dos pontos que quero falar nesse post.

Antes de partir para o tema central, que está no título dessa publicação, gostaria de falar um pouco sobre Os Cavaleiros do Zodíaco original e explicar como uma parte do que fazia a série ser destacável são as mesmas coisas que atrapalham a criação do novo anime. No geral, o maior problema se encontra no apelo dela. Saint Seiya foi feito para um público que buscava por lutas e batalhas sangrentas, público esse que na época era constituído por meninos e jovens do sexo masculino e isso acabou sendo algo que afetou todas as outras particularidades do show. Os tempos mudaram e hoje em dia meninas e adultos consomem séries de ação, logo certas coisas do passado não funcionarão mais, todavia se livrar de algumas delas será difícil!


Saint Seiya ficou beeeeeeeeeeem datado!

Pensando por esse lado, percebe-se que CDZ era um forte fruto de sua geração e esse fator atrapalha muito na produção de um remake. Por outro lado obras antigas pra caramba ultimamente vem recebendo ótimas repaginações. Um caso recente disso é um anime dessa temporada chamado Dororo, que é uma adaptação atualizada de um mangá clássico de Osamu Tezuka. A obra também fez mudanças drásticas em relação ao material original, porém as mudanças foram benignas e trouxeram ÓTIMOS resultados!! Então por que diabos mudanças grandes funcionam em algumas obras, enquanto em outras não? Após refletir sobre isso, cheguei nessa conclusão: as mudanças devem ser somente feitas em cima do que não é sensível.

Os aspectos sensíveis envolvem aquilo que é considerado "sagrado", isto é, são as características marcantes da obra, uma parte importante do que fez dela ser o que foi no passado e se forem alteradas, mesmo com boas intenções por trás, gera desconforto nos fãs de longa data. Pegue Dragon Ball, por exemplo, imagine que a obra está sendo refeita por um estúdio americano de animação e afim de torná-la mais interessante para o novo público decidem alterar a estética que foca em artes marciais orientais por boxe ou outra que se encaixaria mais no "padrão estadunidense"... Ficaria zoado (e engraçado), né?! Posso ter exagerado um pouco no exemplo, no entanto foi mais ou menos nesse nível que o pessoal se sentiu quanto a mudança de sexo de Shun, foi inadmissível a alteração das individualidades de um personagem memorável estabelecidas a muito tempo e que ainda possui um número considerável de fãs.


Dragon Ball tem várias outras influências estéticas, mas a principal baseia-se em artes marciais orientais, como Kung Fu.

Em contrapartida, quando se trata de Dororo, uma franquia com mais de cinquenta anos de idade, fica fácil de identificar quais de suas peculiaridades podem ser alteradas sem causar grandes danos ao que fazia dela especial, devido aos seus anos de existência combrirem o tempo necessário e suficiente para a obra ter recebido análises mais profundas e sensatas universalmente reconhecidas. Seguindo essa lógica, foi moleza tomar boas decisões e logo perceberam que deixar o protagonista mudo durante o começo da história poderia ser conveniente para criar situações mais interessantes, por exemplo. Isso incentivou os roteiristas a explorarem mais a premissa e tornarem o protagonista alguém misterioso, algo que ajuda no seu desenvolvimento mais pra frente. E um fator que favorece ainda mais o novo anime quanto ao cenário de mudanças, é que o público veterano pode até estar extinto nos dias de hoje, o que elimina o risco de desapontarem um certo grupo de pessoas que compõem o público. O novo CDZ já começa complicando quando o novo anime está sendo feito para um novo público, sendo que o público antigo ainda existe!

O remake tem como foco a representatividade, devido a ascensão de discussões que buscam a aceitação coletiva de certas minorias nos últimos anos, algo muito similar ao que ocorreu nos anos sessenta, que foi uma época marcada pelo surgimento de muitos movimentos sociais que lutavam contra diferentes tipos de opressão que existiam na época e que ocasionalmente ainda ocorrem na atualidade. Overwatch é um exemplo de uma franquia recente que cumpre bem esses requisitos, por mostrar um elenco com características bastante diversificadas. O porquê de eu ter dito isso é simples: ouvi dizer (não lembro aonde, então peço desculpas) que um dos motivos de terem mudado o sexo de Shun dizia que hoje em dia nenhuma série é só de homens e se caso for irá fracassar, o que eu acho um belo de um papo furado, pois se fosse verdade JoJo no Kimyou na Bouken Series nunca faria sucesso na atualidade, já que 90% do elenco de peso dessa série consiste de personagens do sexo masculino!! Se o novo show busca mais representatividade, existem outros pontos que merecem mais atenção, já que o Shun original já era um exemplo disso, afinal era um personagem que provava que homens poderiam ser valentes e sensíveis ao mesmo tempo. Portanto mudar o sexo de um dos personagens principais apenas para cumprir um dos requisitos da nova proposta não foi uma boa escolha.


Shun já era meio afeminado... Isso não bastava?

E para finalizar, recapitularei tudo o que aprendi após esta sequência de reflexões. Uma nova versão de uma série antiga para a atualidade deve alterar somente aquilo que não influencie na perda de parte do que fazia a mesma ser especial no passado, o cenário para atualizações é mais favorável quando público-alvo original já não existe ou está em extinção e nem tudo o que havia no passado não servirá nos dias de hoje, talvez esse último ponto justifique a razão de várias franquias terem sido tão populares nessa época: em alguns aspectos, elas estavam à frente de seu tempo. Daqui pra frente, passarei a ser mais rigoroso quanto a esses três itens centrais, então sempre que eu ver um remake novo chegando aí, estarei atento à isso no momento de analisá-los e vamos ver como esse novo Cavaleiros do Zodíaco será no fim das contas! Apesar de tudo o que falei, tenho expectativas levemente positivas, pois a qualidade da animação, baseado no que foi visto no trailer, está boa e gostei de algumas mudanças, como a dos nomes de alguns personagens, porque era muito estranho ter lutadores de diferentes lugares do mundo terem todos nomes em japonês, não é?! Enfim, espero que esse artigo tenha sido útil ou interessante para alguém, assim como foi para mim, e vou ficando por aqui!! Falou, galera!!!

Comentários