Overlord Review - Como Fazer Bons Protagonistas


Comecei a ver esse anime por recomendação de um amigo, que adora essa série e achei a premissa bem chamativa e intrigante, apesar da ideia não ser muito original, pois lembra claramente obras como Sword Art Online. Apesar de uma parcela das minhas expectativas terem sido baixas por conta disso, consegui me surpreender com o anime e ele se mostrou como um show bem satisfatório, mesmo com as falhas.

Sinopse

A história se passa em um futuro bem distante, onde MMORPGs super imersivos que dão a sensação dos jogadores estarem dentro dele se tornaram realidade. Chegou o momento em que um desses famosos jogos vai ter seus servidores desligados e um dos jogadores, Momonga, decide ficar até o fim, entretanto, mesmo com o fim da contagem regressiva, ele ficou preso dentro do game! Mas isso não é tudo, os NPCs agora possuem sentimentos, elementos mais imersivos foram adicionados, como cheiro, e aparentemente há uma habilidade passiva que automaticamente o acalma quando está sobre efeito de fortes emoções. Agora Momonga, que está preso em um mundo estranho, sem amigos e sem família, deve continuar seguindo em frente para, talvez, conseguir escapar deste jogo e desvendar os mistérios por trás disso tudo!



Um protagonista exemplar

A trama utiliza essa premissa, mesmo sendo algo saturado na indústria, para contar uma história diferente da que encontramos em séries similares e penso isso por conta de estarmos acompanhando o desenvolvimento de um vilão, no caso, o protagonista, que pra mim é o ponto positivo mais forte da obra. Enfim, apesar de estar confuso e desesperado com o ocorrido, ele consegue resolver as situações de maneira sábia, o cara é poderoso e sabe usar bem seus poderes quando é conveniente, ao mesmo tempo, que cada ação executada o ajuda a compreender melhor o ambiente ao seu redor ou descobrir novos mistérios! Eu curti muito isso, pois ele não é um protagonista que fica se fazendo de estúpido a todo momento, ele está assustado, mas se acalma (por conta de interferências externas, um dos mistérios da série, e também pelo esforço próprio), após relaxar toma atitudes inteligentes, compreende rapidamente a situação em que se encontra e age adequadamente, em cada uma delas, no intuito de evitar grandes problemas!! É muito refrescante e satisfatório, por isso Momonga acaba sendo um personagem que fica fácil de criar empatia e torna tudo o que presenciamos na história mais interessante, já que ela é contada no ponto de vista dele!

Continuando a falar sobre o protagonista, há um momento em que, após uma série de análises e reflexões sobre seu estado atual, ele decide recorrer à uma forma de como pode manter contato com possíveis jogadores que podem também ter ficado presos no game e depois faz a seguinte declaração "Acho que até lá, será bem divertido dominar o mundo...", essas palavras deixam claro que Momonga, agora conhecido como Ains, não é um herói, e sim um vilão! Conforme avançamos, vemos que o sujeito começa a olhar para humanos de forma indiferente, após presenciar um massacre numa vila ele não sente coisa alguma, não fica horrorizado, enojado, triste, nada disso, talvez por ainda pensar que são NPCs, contudo devemos lembrar que a sua forma no jogo, um morto-vivo, faça com que ele não precise comer ou dormir para sobreviver, talvez essas coisas tenham contribuído para consumir parte de sua humanidade e não querer mais se comparar a esses seres. A tal vila que estava sendo massacrada foi salva por ele e seus subordinados, mas a intenção era usá-los para adquirir informações daquele mundo, pois, assim como os expectadores, Momonga/Ains ainda não sabe de certas coisas, com o tempo o mesmo começa a assassinar outras pessoas com bastante frieza e trata a morte de alguns "companheiros passageiros" de maneira insensível... Não resta dúvidas, esse maluco é um vilão, mas do tipo Darth Vader, cruel e carismático!! Acompanhamos a trajetória de um líder gentil, misericordioso e um pouco atrapalhado (em um ritmo equilibrado) se tornando um monstro cruel e perverso, só que sem causar revolta no público.


MORRA OTACOOOOOOOOOO!!!!

Outros personagens e méritos

Outra coisa bacana são os diálogos coerentes, mesmo com momentos expositivos impertinentes (tem formas melhores de expor essas informações para os expectadores, inclusive o anime opta por seguir elas várias vezes), a maioria das falas e informações expostas aparentam ter algum propósito e importância pro plot e pra lore! A história é bem elaborada, pequenos detalhes não são deixados de lado e o mundo é curioso e intrigante. E um outro ponto que vale ressaltar são os personagens secundários, na primeira temporada muita coisa não foi mostrada a respeito deles, porém o que foi mostrado me instigou a querer saber mais sobre os mesmos e nas temporadas seguintes parte do desejo é correspondido. Acredito que uma das coisas mais importantes na hora de escrever uma história é fazer com que seus personagens pareçam pessoas ou no mínimo um ser vivo com consciência e não uns bonecos que representam estereótipos, é preciso tratá-los com respeito. Em Overlord, a princípio, não é mostrado muito sobre eles, entretanto o modo como eles interagem entre si, os diálogos que são construídos para revelar suas características e um pouco das peculiaridades, me deixaram curioso em querer saber mais sobre esses personagens, sem contar que geram momentos divertidos.

Acredito que é importante fazer isso (apresentar sutilmente esses elementos) em uma obra de mistério, porque acaba sendo mais uma coisa que deixa a audiência presa a trama, fora que fortalece essa sensação de que há pessoas interagindo naquele meio de forma natural, isto é, deixa o mundo um pouco mais vivo. Vários personagens secundários não atingiram as minhas expectativas, só que quase todos tem um imenso potencial e um conceito até filosófico e moral por trás, onde eles seriam meros mortais submissos aos "Grandes Deuses", sendo estes simbolizados pelos players. Sobre a produção, achei ela mediana, listarei alguns méritos dela: o character design dos personagens é FABULOSO, eles realmente possuem estilo, a Opening e a Ending são lindas (da primeira temporada) - a letra da abertura resume bem a personalidade do personagem principal, enquanto a letra do encerramento resume a protagonista feminina. A trilha sonora cumpre bem seu papel, mas nada demais, e possui efeitos sonoros aceitáveis.


Excelente character design.

Contras

Mesmo sendo uma obra que me encantou bastante, ela ainda sofre com vários problemas... O anime tem uns diálogos expositivos bem inconvenientes, algumas vezes esses momentos fazem sentido, mas em outros não. Parece que os personagens estão encaminhando essas informações para o expectador e não entre eles, pois os mesmos descrevem com muitas especificações certas coisas para outros personagens que já sabem daqueles detalhes. Fica estranho e há formas melhores de apresentar essas informações para o expectador sem deixar com um clima artificial. Outra coisa que me incomodou foram as cenas de ação, por essa eu não esperava, já que o estúdio responsável pela adaptação é a Madhouse!! Mesmo elas consistindo de boas estratégias e não havendo tantas inconsistências (na animação), grande parte das cenas de ação usam CG (que incomoda às vezes), quadros estáticos e quadros com um pouco de fluidez. Quando o anime se dispõe a fazer cenas fluidas com um tempo maior de tela o resultado muitas vezes é decepcionante, é consistente até, todavia deixa a desejar, é lento e, às vezes, robótico. Entendo que quanto mais detalhado é o character design mais difícil se torna mantê-lo consistente nas cenas com movimento, contudo o estúdio Madhouse já provou ser capaz de fazer animes com visuais deslumbrantes e mega sólidos nas partes de ação e fluidez!!! Sinceramente, essa foi uma surpresa desagradável... 

Fora essas duas coisas, o restante que me incomodou foram detalhes mais específicos, porque sou um chato! Alguns vão desde detalhes significativos até coisas bobas. Entre as coisas bobas gostaria de destacar a existência de uma cama no quarto do Momonga!! O sujeito é um morto-vivo que não precisa comer e nem dormir, então porque diabos ele tem uma cama??? KKKKKKKKKKKKKKKKK... Tudo bem que pode servir para fazer sexo (não sei como ele transa, mas alguns diálogos deram a entender que sim, o cara pode acasalar), só que não faria mais sentido só a parceira dele ter uma cama? E qual é a necessidade dois possuírem quartos separados (no início, pelo menos, eles tem quartos separados)?

Já entre as características significativas quero falar sobre o clímax de certos eventos, alguns são meio fracos. Fora o confronto final da primeira season, que podia ter cenas animadas mais deslumbrantes, tem outra batalha que me chamou a atenção por um motivo especial. Como eu disse no tópico anterior, o anime flerta um pouco com elementos do cosmicismo (humanos e outros seres humilhados, rebaixados, submissos e reduzidos para um nível equivalente ao das formigas por seres além da compreensão no ponto de vista deles). O porquê de eu ter sito isso novamente?! Simples, uma das lutas [ALERTA DE SPOILERS], no caso a Nabe contra o mago velhote que esqueci o nome, ela o derrota com um "ataque supremo" e só! Eu pensava que a mulher ia torturar psicologicamente o velho até enlouquecê-lo, visto que a mesma diz que foi criada pelos "Seres Supremos" e logo mais tarde descobrimos que se tratava do próprio Momonga e dos outros jogadores que criaram eles, os NPCs. Eu achei isso uma forma genial de colocar os humanos em uma posição similar às criatura poderosas vistas nos contos de Lovecraft, meio que aproveita o tema "SAO-like" para construir uma narrativa próxima de Matrix, isso é muito gratificante (acabei falando de uma qualidade da obra no meio do tópico "Contras", eu realmente gostei desse negócio, huehuehu3). [FIM DOS SPOILERS]

Enfim, esse poderia ser o momento perfeito para o autor ou os roteiristas criarem outra cena impactante de assassinato (a que estou me referindo acontece no mesmo arco, inclusive, e não teve muito a haver com Cosmicismo, embora tenha sido um momento bem satisfatório e interessante) e dessa vez envolveria mais esse tema. Claro que só fazer isso não iria bastar, o personagem teria que ter no mínimo um pouco mais de plot para sua morte ter um impacto mais forte em relação ao público, assim como outra personagem desse mesmo arco, e acredito que os roteiristas da Madhouse poderiam ter aproveitado a chance e fazer isso que falei, a não ser que essa decisão pudesse influenciar e alterar um evento futuro da história, então, até ao fim da obra, fica difícil de chegar à um veredito para essa cena, todavia, seria no mínimo satisfatório se a obra tentasse fazer o que eu disse na seção de spoilers, isto é, se fosse possível...


Queria ver mais cenas assim...

Conclusão

Overlord apresenta vários problemas, mas me impressionou mesmo assim. Esse anime é uma aula de como fazer um bom protagonista, a história possui um bom roteiro e usa a premissa de SAO-like de uma forma bem incomum e atraente. Entendo que o anime possa não agradar alguns, só que, no meu ponto de vista, é uma série que vale a pena conhecer e tem um potencial gigantesco!!

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